Um novo Pentecostes!

Por Padre Douglas Franco

É verdade que a festa de Pentecostes já era celebrada pelo povo de Israel muito antes de Cristo. Sete semanas após a festa da páscoa, que era o memorial da libertação do Egito, o povo celebrava a chamada “Festa das Colheitas” ou “Festa das Semanas”, que depois, com a influência da cultura grega passou a ser chamada Pentecostes, referindo-se ao tempo de 50 dias transcorridos após a páscoa, quando acontecia esta festa. No principio o povo de Israel celebrava para agradecer a Deus a colheita dos grãos, frutos da terra prometida que o próprio Deus deu a eles como herança. Era uma festa estritamente agrícola. Depois, com o passar do tempo, esta festa recebeu um sentido histórico: celebravam a promulgação da Lei Mosaica, recordando o momento em que Moisés, após a saída do Egito, no Monte Horebe, recebe das mãos do próprio Deus, as Tábuas da Lei. Isso trazia a Jerusalém, todos os anos, grande multidão de peregrinos judeus espalhados por todo o mundo, como relata os “Atos dos Apóstolos”.

É nesse contexto que o Livro dos Atos dos Apóstolos narra a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos (At 2). Jesus havia prometido que o Pai enviaria o Espírito Santo em seu nome, e que esse mesmo Espírito ensinaria tudo e recordaria tudo que Jesus tinha ensinado aos discípulos.  Segundo os Atos dos Apóstolos, a vinda do Espírito Santo se dá exatamente durante a festa de Pentecostes. Os discípulos estavam amedrontados diante de tudo que havia acontecido com Jesus. Então, de um modo inesperado houve uma grande manifestação do Espírito. Diz a Palavra que “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava. Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: ‘esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? Nós, que somos partos, medos, e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua.’” (At. 2, 1-11).  A partir desses fatos a celebração de Pentecostes, assume uma nova identidade, para os cristãos. Comemoramos o cumprimento da promessa. O Espírito prometido foi derramado sobre os discípulos. Foram revestidos de força e coragem, sabedoria e inteligência, para cumprirem a missão de anunciar que Jesus é o Cristo de Deus. Tornaram-se capazes de se comunicar com todas as pessoas, pois a linguagem do amor é universal. De discípulos passam a ser Apóstolos: testemunhas da ressurreição e da vida nova. E assim nascia a Igreja, assumindo sua missão de levar ao mundo a boa nova do Evangelho. Celebrar Pentecostes é celebrar tudo isso e muito mais. Celebramos a presença do Espírito na vida de todo aquele que se abre para acolhê-lo como um verdadeiro Dom de Deus. Ao sermos crismados, ouvimos exatamente isso da boca do bispo: Recebe, por este sinal, o Espírito Santo, o Dom de Deus. A unção com o Crisma é um sinal externo de uma realidade espiritual: somos ungidos e portadores do Espírito Santo, ele habita nosso interior, age em nós e através de nós, sua grande missão é nos santificar e nos conduzir à salvação.

Em Pentecostes a Igreja recebe uma nova lei, a lei do amor, não mais escrita em tábuas de pedra, mas inscrita no coração daqueles que se abrem a ação do Espírito. A Igreja nascente também começa a colher os primeiros frutos da pregação do Evangelho e assim experimenta a alegria que continua nos motivando até hoje a continuar a missão de sermos testemunhas daquele que nos criou, nos salvou e continua derramando sobre nós o seu Espírito de Amor para nos conduzir à vida eterna. Eis o novo Pentecostes!

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