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Quaresma – Padre Douglas responde dúvidas sobre o tempo quaresmal

Quaresma, tempo forte de oração e penitência

Por Pe. Douglas Franco 

Todas as grandes festas litúrgicas na vida da Igreja são precedidas de um tempo forte de preparação. A Páscoa é a maior festa do Cristianismo: se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé, já dizia São Paulo, na carta aos Coríntios (cf. 1Cor 15,14). A Quaresma é esse período de preparação que antecede a Semana Santa e a Festa da Páscoa.

A Palavra “QUARESMA” evoca ao numero 40. Na tradição bíblica, diversos acontecimentos se estenderam por um período que leva o numero 40: o dilúvio, que durou 40 dias e 40 noites (Gn7,12); o povo de Deus que, liberto da escravidão no Egito, caminhou 40 anos no deserto (Dt 29,5); o jejum de Jesus no deserto também durou 40 dias e 40 noites (Mt 4,1-2).

A Quaresma é esse período de 40 dias, que vai desde a Quarta-feira de Cinzas até o Domingo de Ramos, em que somos convidados a fazer uma experiência de deserto, de Jejum, oração e penitência. Ela deve ser vivida por todos os cristãos como um verdadeiro Retiro Espiritual.

Ao longo desse tempo viveremos cinco semanas e a Liturgia da Palavra dos cinco domingos da quaresma são uma enorme riqueza e terão a missão de nos conduzir por essa caminhada quaresmal. Toda a liturgia e as celebrações deste tempo têm o objetivo de nos ajudar a celebrar verdadeiramente a Páscoa.

Mas em que consiste celebrar verdadeiramente a Páscoa? Certamente não estamos falando simplesmente da grandiosa e belíssima celebração da Vigília Pascal, no Sábado Santo. Muito menos das lindas liturgias do Domingo de Páscoa ou dos dias de festa que se estenderão por todo o Tempo Pascal até a Festa de Pentecostes.

Celebrar a páscoa significa crer na vida nova, significa crer que Cristo ressuscitou, e nos dá a graça de podermos ressuscitar com Ele! Crer que Ele está nos conduzindo à vida eterna, pela força da sua ressurreição. Crer que Ele transforma a nossa vida a cada dia.Que está nos santificando, à medida que nos abrimos ao seu amor transformador. Inclusive, a liturgia que celebramos é, antes de tudo, ação do próprio Deus para realizar a santificação do ser humano.

Mas como disse Santo Agostinho, “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti.” E assim entendemos a importância da nossa adesão e abertura ao projeto de amor de e salvação que Deus tem para a humanidade. Os exercícios quaresmais da prática do jejum, da caridade e da oração, têm a missão de nos ajudar nessa abertura de coração. Ajudam-nos a vencer nosso egoísmo e nossas más inclinações, fortalecem nosso corpo, nossa mente e nosso espírito.

O Jejum é o exercício do autocontrole, nos ajuda a desenvolver a capacidade de dominar nossos impulsos e compreender a importância de viver na perspectiva do sacrifício, nos tornando capazes de abrir mão daquilo que não nos convém, ou até de coisas que são boas, para conquistar coisas ainda muito maiores e melhores, como aquele homem da parábola que vende tudo o que tem para comprar “a pérola”, imagem usada por Jesus para nos falar da riqueza do Reino (Mt 13,46).

Pela Oração expulsamos com mais naturalidade as realidades diabólicas que nós cultivamos ou que absorvemos dos outros, porque a oração nos põe em comunhão com Deus. Quem tem o habito de rezar, tem mais controle da própria conduta, pois a oração é um caminho de autoconhecimento. Quem reza, mas não muda de vida, na verdade não rezou tão bem assim, pois a verdadeira oração sempre vai nos fazer evoluir, mudar, alcançando cada vez mais uma versão aprimorada de nós mesmos.

Pela prática da Caridade fazemos o exercício de superar nosso egoísmo, que nos impede de enxergar o outro e torna nosso coração cada vez mais petrificado e insensível. E assim Deus vai nos ajudando a cultivar a capacidade de acolher os irmãos, perdoar os que nos ofenderam e ajudar os necessitados, não só materialmente, mas sobretudo sendo capaz de nos tornamos promotores da dignidade humana e da vida em abundância para todos, que é o grande sonho de Jesus.

Trata-se de um caminho de conversão, de mudança de vida, para nos tornarmos aquilo que Deus sonhou ao criar o ser humano. E assim seremos realmente filhos de Deus, a exemplo de seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, fiel em tudo ao Pai, que viveu e morreu por amor e para nos conduzir à perfeição de nossa capacidade de amar.

As sementes dessa vida nova já nos foram dadas em nosso Batismo, por isso também a liturgia desse tempo tem grande caráter batismal, e culminará na renovação de nossas promessas batismais na vigília pascal. Através de nossa fé e das práticas quaresmais vamos colaborando para que germinem e dêem frutos.

Se soubermos ser fiéis ao que Deus e ao que a Igreja nos propõem para este tempo, então experimentaremos realmente a alegria da Ressurreição do Senhor e a forma com que ela toca concretamente nossa vida, nos transfigurando também a nós. E então poderemos cantar com a voz e o coração: Alegrai-vos, Aleluia! O Senhor Ressuscitou verdadeiramente!

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