A Igreja está no mundo e é nele que ela exerce a sua missão. No momento atual vivemos essa etapa difícil de uma pandemia a nível planetário. São inúmeros os sofrimentos, dramas, perdas e tristezas, e com isso emergem vivências e perguntas que na normalidade do viver estavam adormecidas, porém na experiência de situações limites como do cenário atual, elas aparecem insistentemente e são respondidas adequadamente, a nível humano e espiritual, a partir da fé.
Diariamente somos informados sobre a letalidade do Coronavirús, que vem vitimando tantas pessoas neste momento tão singular da nossa história. O surgimento da Covid-19 e as suas consequência estão colocando à prova a resistência humana e social de muitas pessoas, aumentando o número de pessoas na miséria, e sem emprego, gerando doenças psicológicas, distúrbios e desequilíbrios emocionais, falta de contato humano, entre outras consequências.
A nível eclesial estamos vivenciando a suspensão das atividades esperando o retorno à normalidade. Realmente é uma experiência difícil o afastamento da vida comunitária sobretudo da celebração da Santa Missa. Para muitos a relação com a comunidade paroquial foi interrompida apenas temporariamente, uma vez que por meio das redes sociais as celebrações acontecem. A catequese é feita por Whatsapp com orações, citações e leituras bíblicas. É importante também nesta forma de comunicação a preocupação com as famílias que muitas vezes estão afetadas pelo desemprego ou pela saúde psicológica e espiritual abalada. Nessa fase de isolamento se faz necessário a comunicação da Igreja por meio das redes sociais e da TV, pois é uma oportunidade para tantos que não desenvolveram o suficiente a sua fé e se percebem numa crise em relação ao sentido da vida. As missas on-line, adorações, terços e meditações são gravados e transmitidos. A Igreja deseja que a Palavra de Deus chegue aos corações das pessoas para uma melhor vivência da fé, sobretudo neste momento de crise, embora exista um sentimento de falta da Eucaristia, da Confissão e da comunidade em geral.A comunidade reunida é sinal da presença do Ressuscitado (Mt 18,20).As celebrações presenciais são fundamentais para a nossa fé e para a vivência fraterna.
Católicos também estão intensificando o seu compromisso com as atividades de caridade em sua paróquia e na sociedade. Diante da vulnerabilidade comum da humanidade a resposta dos cristãos deve ser a solidariedade. Muitos diante de tanto sofrimento revelam a bela face da Igreja, ou seja, a compaixão, a misericórdia e a oração. É o Povo de Deus que mobilizado desenvolve iniciativas de caridade testemunhando assim o amor de Deus. São tantos exemplos de dedicação, sobretudo aos mais pobres, crianças e idosos, tais como o fornecimento de alimentação aos moradores de rua, o apoio às famílias em situação de luto, mostrando que o cuidado com os que sofrem é uma prioridade.
A fé cristã nos leva a identificar sinais de esperança neste contexto da pandemia: o cuidado com a vida dos irmãos e com a própria, o respeito às normas de segurança que evitam o contágio pelo Coronavírus. Entre tantos sinais de esperança, um é a vacina. A vacina contra a Coronavírus nos dá esperança deerradicação da Covid-19. A Igreja fala que a vacina para todos esta fundamentada na Doutrina social da Igreja. Falar da vacina é falar da vida comunitária, dimensão essencial da vida cristã. Precisamos então, mais do que nunca, vencer o individualismo. A Igreja não obriga ninguém a vacinar, contudo suscita um sério questionamento sobre a responsabilidade do ser humano na colaboração para promover o bem comum. Isto é afirmadonanota:“Vacina para todos: 20 pontos para um mundo mais justo e saudável” publicada em 29 de Dezembro de 2020 por uma comissão do Vaticano, criada pelo Papa Francisco e pela Pontifícia Academia pela Vida. Diante do desafio da construção da fraternidade social, nos diz o Papa Francisco, numa entrevista a uma TV italiana “vacinar não é uma opção, mas uma ação ética” . A vacina contra a Covid-19 é um direito de todos os brasileiros.
É importante também buscar, por meio da fé, o sentido desta situação que estamos vivendo, acolhendo este momento, mesmo que seja doloroso, com responsabilidade espiritual e cultivar uma relação profunda com Jesus Cristo, sem esquecer as pessoas que necessitam de ajuda. Precisamos nos adaptar, mas sobretudo abraçar a lógica da Salvação, e renovados como cristãos batizados e discípulos entender mais profundamente a nossa missão. Guiados pelo Espírito Santo podemos fazer o discernimento daquilo que é realmente essencial.
Jesus Cristo está conosco, não nos abandona (Mt 28,26). Ele caminha conosco (Lc 24,13-35). A partir da experiência desta terrível pandemia, à luz da fé, sabemos que em qualquer momento do nosso caminho, pessoal ou comunitário, na alegria ou na tristeza, o Senhor sempre estará conosco.
Por Pe Altair dos Santos – Reitor do Seminário Maior São José de Anchieta