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Conheça a história de Frei Pio Populin, o missionário que se fez caiçara

Frei Pio Populin foi um missionário que se fez caiçara e marcou a história de nossa Diocese. Por isso, ele é a sexta personalidade homenageada da nossa série de reportagens “Rumo ao Jubileu de Prata”.

O franciscano viveu 96 anos e em boa parte deles ajudou a construir a história de Ubatuba. O altruísmo e a humildade eram suas principais características desde que chegou ao Litoral Norte em 1966. Sua principal motivação de vida era: “Para conseguirmos o que queremos, precisamos ter perseverança, dedicação, arrojo, amor e uma grande cota de humildade.”

A última, o religioso tinha de sobra. Por onde passou, deixou um legado riquíssimo, inclusive em nossa Diocese de Caraguatatuba. Conheça mais sobre a trajetória dele no artigo do historiador Rogerio Estevenel com contribuição de Torres Retti e Professor Ronaldo José Ronaldo:

Nascido em 17 de fevereiro 1913 em Buia, de Udine, nordeste da Itália, filho de Benedetto Populin e Argentina Pauluzzi Populin, Frei Pio pertenceu a uma prole de nove irmãos. Em 1931, aos dezenove anos, Ciro Enea Populin (nome de batismo) deu início ao seu projeto de vida ligado ao carisma franciscano, que a princípio, pensava ser missionário na China.

Influenciado pelo Padre Acerbi, dominicano que em visita a seus confrades no Brasil, falou-lhe desta terra com grande entusiasmo o qual plantou em seu íntimo a semente missionária, levando-o a solicitar ao Superior da época para vir ao Brasil e recebendo, no entanto, a resposta negativa. Quando já estava engajado na obra do  Orfanato Villaggio Santo Antônio, e já não pensava tanto nas Missões e no Brasil, veio a ordem para que se fizesse missionário em  terras brasileiras.

Em 10 de novembro de 1958, aportou no Rio de Janeiro. Foi destinado para trabalhar em Ubatuba, em 24.07.1966. Ubatuba nesse período ainda fazia jus ao trecho de seu  hino “sozinha e isolada só com sua fé”, mas que  carecia do anúncio da “Boa Nova”, com a assistência religiosa  e social, os quais foram marcos durante a presença deste frade nas terras da “Exaltação da Santa Cruz do Salvador”

Começou a visitar os bairros, praias e sertões, celebrando missas, batizando, fazendo casamentos e confissões. Foi na região do Ubatumirimque dedicou mais atenção, extasiado com a beleza e andando por estes lugares, passou a conhecer suas dificuldades, especialmente de transportes. Veio-lhe então a ideia de adquirir um barco, conseguido por uma doação, para transportar as pessoas, dando-lhes a possibilidade de trazer para a cidade, os frutos de sua terra e o produto de sua pesca.

A seguir construiu o Estaleiro, donde foi realizada a construção do pequeno barco e a praia a partir de então recebe carinhosamente a menção de “Estaleiro do Padre”. Ao iniciar as atividades no campo social, sentiu a necessidade de criar uma entidade que fosse a responsável pelo trabalho, e, foi então que surgiu a ASEL – Ação Social Estrela do Litoral, entidade por ele fundada e mantida através de seus pedidos de ajuda que costumeiramente fazia a industriais e empresários paulistanos e do ABC. Em 11 de abril de 1983, deu-se então, início ao trabalho da Creche Francisquinho, e que tinha em sua direção os trabalhos das Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis. Construiu uma Casa de Encontros e Retiros, no seu recanto preferido, o Ubatumirim, e que recebeu o nome de BETÂNIA – Oásis Franciscano.

Ubatuba não o pode esquecer. Deve muito a suas ações e espírito empreendedor. Dedicou, mais de 44 (quarenta e quatro) anos, a fazer o bem nestas terras. Suas obras tiveram grande importância e prestaram e prestam inestimáveis serviços sociais.Segundo o Professor José Ronaldo: “Um exemplo de alguém que me marcou pelo uso das palavras foi o Frei Pio, (E aqui repousa para sempre!). Seus sermões eram incisivos, iam ao cerne das questões, questionavam mesmo!”

Frei Pio sempre amou profundamente Ubatuba, como se ele próprio fizesse parte desta terra. E Ubatuba também sempre o amou, por dedicar sua vida a este povo, vivendo o Evangelho de Jesus e caminhando nas pegadas de São Francisco de Assis. O “Homem de Deus” foi também “O Homem de Ubatuba”  – semeou a Paz e o Bem”.

Frei Pio foi um observador das transformações que o reduto caiçara de Ubatuba sofrera a partir da abertura da Rodovia Rio-Santos a qual impôs a comunidade o início de uma segregação espacial que culminaria em um êxodo de inúmeras famílias para a região central em virtude da intensa especulação imobiliária, novas frentes culturais e religiosas e que necessitavam de especial assistência. Junto com o esse “desenvolvimento” chegou a destruição.  O caiçara antes já abandonado, recebe agora o tiro de misericórdia. As pressões econômicas, físicas, psicológicas, despojam-no de suas posses seculares. A“Rio-Santos ameaça tudo, até os caiçaras”. Os terrenos chegam a ser vendidos por centímetros. É a Costa do Ouro Brasileira; não há mais lugar para os que a lavraram durante cerca de 300 anos.

Os caiçaras expulsos das terras de seus ancestrais, são apertados nos sertões dos sopés da Cordilheira Atlântica, tornam-se, mais raramente, caseiros de suas próprias terras, já vendidas a preços baixos, e, no mais das vezes, são jogados às sarjetas das cidades vizinhas, que se incham nas favelas, que já começam a proliferar pelos mangues e morros.

Se não tivesse existido o esforço ingente da Ação Social Estrela do Litoral (ASEL), dos Frades Menores  Conventuais, talvez esse “Império Caiçara” já estivesse totalmente devastado.

“… no meio dos turistas, sua atenção foi atraída por aquela gente simples e pobre que chegava pelo mar, com sacos de farinha ou cachos de banana para vender…”

Sobre frei Pio o professor Corsino Aliste relata: “Sua espiritualidade franciscana, na visão dos grandes desafios da América Latina, sustentou-o sempre, sobretudo nos últimos seis anos de vida, passados na cama, cego e sem forças próprias. Teve todo o carinho da comunidade de Ubatuba.

Faleceu dia 18 de novembro de 2009, aos 96 anos de idade, Frei Pio Populin. Homem ímpar. Dedicado à prática do bem. Distribuía tudo que chegava a suas mãos. Viveu o espírito franciscano e a sublimidade da caridade cristã “Protótipo do homem enxugador de lágrimas, curador de feridas e criador de sabedoria e alegrias para auxiliar as pessoas mais necessitadas.”

Adaptado por Rogerio Estevenel

Fontes: Silmara Torres Retti e Professor Ronaldo José Ronaldo

Pastoral Fé e Cultura

Paróquia Exaltação da Santa Cruz  do Salvador de  Ubatuba-SP

Fotos: Ordem Franciscana Secular Santa Isabel de Hungria

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