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A Espiritualidade Quaresmal

Por Pe. Carlos Lemos

A quaresma é um período de grandes exercícios espirituais anuais de toda a Igreja. Numa homilia, São Leão chama de um “remédio de quarenta dias de exercícios que a divina providência muito saudavelmente nos dá”.

O Tempo da Quaresma se estende da Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo de Ramos. A liturgia da Quarta-Feira de Cinzas abre o tempo da Quaresma, com a imposição das Cinzas como sinal de penitência e conversão. A cor litúrgica é o roxo, sendo que para o 4º Domingo (Laetare) é permitido o uso da cor rosa.

“A Igreja se une, a cada ano, durante os quarenta dias da grande Quaresma, ao mistério de Jesus no deserto”, conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, nº 540. Deste modo, a Santa Igreja nos introduz num contexto espiritual específico. Segundo Bento XVI, os quarenta dias é um número simbólico com que o Antigo e o Novo Testamento representam momentos salientes da experiência da fé do Povo de Deus. Trata-se de um número que exprime o tempo da expectativa, da purificação, do regresso ao Senhor e da consciência de que Deus é fiel às suas promessas. Por isto, é tempo especial de reflexão de vida, mudança de atitude e disposições para assumir uma vida nova na graça divina. Somos povo de Deus que caminha em meio a este mundo, no qual somos chamados a vencer as provas da vida e as tentações do Mal. A quaresma é um tempo muito propício para o nosso amadurecimento e crescimento na busca da santidade de vida. Assim sendo, a espiritualidade quaresmal é profundamente de conversão e penitência.

Na Quaresma temos um momento forte da prática penitencial da Igreja, particularmente apropriado aos “exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias)”, nos ensina o Catecismo, nº 1438. Portanto, é tempo de revisão de vida, e a liturgia quaresmal é impregnada de uma dupla índole: batismal e penitencial. Uma vez que nos prepara para a Páscoa do Senhor, somos chamados neste tempo penitencial a renovar as promessas do nosso Batismo, assumindo o compromisso batismal e a buscarmos o sacramento da Penitencia, como luta contra o pecado e o maligno. É um caminho de renovação espiritual, procurando seguir os passos de Jesus, que nos quarenta dias transcorridos no deserto ensinou a vencer a tentação com a Palavra de Deus.

Quaresma remete a quarenta dias. É um número muito recordado nas Sagradas Escrituras: os quarenta dias do Dilúvio; Moisés no Monte Sinai; os quarenta anos da caminhada do povo de Deus no deserto rumo a terra prometida; o profeta Elias que caminha até o Monte Horeb; os dias de penitência de Nínive na história do profeta Jonas; e sobretudo os 40 dias de Jesus no deserto, nos quais foi tentado por Satanás. Por isso, a Igreja nos convida, a cada ano, durante os quarenta dias da grande Quaresma, unirmos ao mistério de Jesus no deserto.

O tripé da espiritualidade quaresmal: esmola, jejum e oração. Esmola como expressão da caridade e da responsabilidade moral cristã de socorrer os mais necessitados. O jejum como prática de acese e autodomínio das paixões e afeições desordenadas, e a oração como experiência da intimidade com Deus e vivência da graça divina. Com estes exercícios espirituais, quer a Igreja propor aos fiéis um caminho de santificação pessoal, comunitário e social. A Igreja no Brasil propõe como reflexão para o tempo quaresmal, no contexto de uma conversão social, a Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2022, o tema é: “Fraternidade e Educação”, e o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr. 31,26).

Portanto, eis um tempo favorável para abri-se à ação da graça de Deus, que nos dispõe ao serviço de Deus, na vida da Igreja e no testemunho ao mundo. Façamos um bom retiro quaresmal em nossas comunidades participando assiduamente de nossas liturgias, para que a Páscoa do Senhor seja para cada um nós um tempo novo de vida e ressurreição.

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